Se preparar para aumentar a família é uma grande responsabilidade do casal, pois exige planejamento. Mas alguns planos podem sair do controle devido à infertilidade sem causa aparente. Conversamos com um especialista da área, que explicou tudo sobre o assunto que pode ter relação com alterações do sistema imunológico
Seja para uma gravidez natural, ou até mesmo para quem já passou pelo processo de fertilização, diversas questões devem ser levadas em conta, inclusive nos casos de uma infertilidade sem causa aparente. Para o Dr. Ricardo Manoel de Oliveira, imunologista, fundador e diretor clinico responsável da RDO Diagnósticos, cada um dos pacientes precisa ser investigado.
Mas afinal, o que é infertilidade sem causa aparente?
O especialista explica que, na verdade, a infertilidade sem causa aparente não existe, pois “são abortos ou falhas de implantação muito precoces”. A cada 10 mulheres, 6 podem engravidar sem saber: “É muita coisa. São abortos que são imperceptíveis à menina e, lógico, a sensação é que ela não consegue engravidar”, explica.
Por que alterações do sistema imunológico podem causar problemas na gravidez?
Isso pode acontecer porque o ser humano é o único vivíparo que carrega um bebê, diferente de equinos e bovinos, por exemplo. Mas, pensando nisso, o sistema imune materno passa a enxergar o embrião como um transplante semi-alogênico, na qual metade da carga genética embrionária que vem do pai é estranho no corpo da mulher. “Então, se o sistema imune materno não mudar através de mecanismos imunológicos extremamente complexos, ela vai rejeitar o embrião. Esse é o primeiro grande fator de abortos precoces”.
O outro caso é a autoimunidade, quando pelo menos três autoanticorpos atacam a placenta causando doenças como tireoide, inflamações placentárias, entre outros. “Isso pode causar desde falhas de implantação até abortos mais precoces, que ocorrem em até quinze semanas”, comenta o médico.
O que fazer para tratar as alterações do sistema imunológico que atrapalham a gravidez?
Após identificar qual é a causa, é preciso tirar essa inflamação da placenta a partir de medicações que não causam danos ao bebê. Vale lembrar que os remédios devem sempre ser orientados pelo seu médico, pois a automedicação pode causar problemas sérios à saúde.
“Um outro grande grupo que observamos com frequência em casais inférteis, principalmente naqueles que têm aborto clínico, ou seja, aqueles que sabem que abortam, mas também naqueles que têm infertilidade sem causa aparente, são as chamadas trombofilias. Elas se dividem em dois grandes capítulos: as trombofilias herdadas, que são genéticas, e as trombofilias adquiridas, que no seu amplo espectro nós chamamos de anticorpos anti-fosfolíticos. Essa patologia talvez seja uma das mais incidentes da infertilidade e, inclusive, ela pode aumentar com a incidência de aborto e piorar”, comenta o imunologista.
Para tratar as trombofilias adquiridas, o especialista pode recomendar uma medicação específica, que também é anticoagulante. Dessa maneira, evita-se a migração de células do organismo, os granulócitos, que atacam a placenta, “enganando” assim o organismo materno para driblar o problema.
A importância da histeroscopia diagnóstica
O exame, que funciona como uma endoscopia, permite a observação da cavidade uterina por dentro, além do colhimento de uma biópsia do endométrio para análise. “O que nós temos encontrado é uma incidência muito alta de alterações que nós chamamos hoje de endometrite crônica“, explica Ricardo. Antes, existia a teoria de que o problema era quase sempre infeccioso, mas a partir de pesquisas, notou-se que essa é a causa de apenas 30% dos casos, sendo os outros 70% mecanismos imunológicos. “Se nós tratarmos todo o resto e não cuidarmos do endométrio, nós vamos ter insucesso gestacional, porque é impossível para o embrião mudar, implantar ou evoluir com um endométrio doente”, completa.
A partir da histeroscopia, o especialista pode identificar também fatores macroscópicos como, pólipos e sinéquias, que também podem atrapalhar na gravidez. “É um exame tão importante quanto os imunológicos. Eles se complementam”, reforça o diretor clínico responsável da RDO.
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